Após a partida de Ulisses, todos
os principais homens das ilhas tinham pressa em desposar Penélope, “bela como
Artemisa ou a loura Afrodite"[1]. No entanto, ela se valeu da astúcia e do
seu tear para ludibriar todos. Algum deus soprou-lhe a ideia de fazer um grande
pano, com seus melhores fios, para servir de mortalha a Laertes. E ela disse
aos homens: “Esperai, porém, até que eu acabe este pano, pois não queria
desperdiçar o fio que preparei para ele”.
Então, durante o dia, ela o tecia e, à noite, o desfazia! Há-há! E isso durante
anos, até ser desmascarada, mas felizmente surpreendida pelo retorno do ser amado.
Pois, então, o trabalho do revisor não seria tal qual o de
Penélope, conforme se vê neste verdadeiro tapete? O texto inicial é tecido e
vai sendo construído e desconstruído nas mãos do revisor, que nunca considera
seu trabalho pronto...
Agora imagine os clientes e as editoras como os grandes
homens de Same, Zacinto e Ítaca olhando furiosos para você... Não há como adiar o casamento! O objetivo das
editoras é publicar, e não corrigir um texto infinitamente.
O que o estilista da palavra precisa é mostrar essa beleza
aos olhos de quem vê, o leitor, e tornar a mensagem original o mais clara
possível, às vezes modificando sua forma, e colaborando com ambos: o autor e o
leitor.
A estilística é apenas um dos aspectos da revisão para o
qual nem sempre há regras de bolo, e sim exemplos em bons textos de livros,
revistas e jornais. Há ainda dicas e manuais de referência importantes para
que possamos fundamentar nossas escolhas, como o Manual do Estadão.
Que nós, revisores, continuemos
tecendo nossos destinos-textos, com nossas rocas-canetas-comentários em PDF,
enfrentando o aspecto duro e impiedoso da gramática, donde procede a infinita
variedade de formas e exceções.
Parabéns a todos!