Finalmente, estão chegando os festejos
carnavalescos deste ano, para a alegria de uns e a tristeza de outros! Nascida
no mês do Carnaval, por sorte, sempre gostei da batida do samba, mas não da
festa em si. E isso mudou só de uns anos pra cá... Por isso sempre me pergunto
como e por que essa metamorfose ocorreu.
Que paixão é esta que o Carnaval desperta em alguns e não em outros? Ou que surge de repente, sem aviso? Será que ela fica latente, pois, no fundo, somos todos filhos do Carnaval (considerando sua origem remota*)? Isso porque os festejos populares sempre foram considerados uma espécie de “renascimento”. No Carnaval, ganhamos uma "segunda vida" que nos libera das regras e autoridades do cotidiano. Sabemos que somos incompletos e provisórios e, por isso, celebramos a renovação com o riso!
Que paixão é esta que o Carnaval desperta em alguns e não em outros? Ou que surge de repente, sem aviso? Será que ela fica latente, pois, no fundo, somos todos filhos do Carnaval (considerando sua origem remota*)? Isso porque os festejos populares sempre foram considerados uma espécie de “renascimento”. No Carnaval, ganhamos uma "segunda vida" que nos libera das regras e autoridades do cotidiano. Sabemos que somos incompletos e provisórios e, por isso, celebramos a renovação com o riso!
Isso me lembra lá longe das aulas
de Teoria da Literatura e de Cultura Brasileira na faculdade, nas quais falamos sobre o
teórico russo da cultura europeia Mikhail Bakhtin e o antropólogo brasileiro
Roberto da Matta. Daí, tentei imaginar como seria uma conversa entre eles numa
mesa de bar, na véspera do Carnaval do Rio de Janeiro, só pra ver a que conclusões
poderiam chegar sobre o "ser ou não ser" filhos do carnaval? E começa assim:
– Roberto, é verdade que tudo ficou mais engessado sem o valor do riso. Os
eventos oficiais não fazem nada além de consagrar o que está pré-fabricado, as
hierarquias, os tabus, que de tão enraizados parecem até verdadeiros! Já os
eventos festivos são a verdadeira festa humana, a do avesso, das renovações!
– Aí chegamos ao ponto principal, Bakhtin: parece que aqui no Brasil
essa ponte com a visão cômica e carnavalesca de mundo não se quebrou. E o Estado não tem saída a
não ser oficializar a alegria: são centenas de blocos de ruas, dezenas de escolas de samba! Mesmo que eu
não gostasse de Carnaval, não teria como fugir dele.
– Aliás, falando do carnaval no Rio, você prefere os blocos de rua ou as escolas de samba?
– Roberto, acho que carnaval não tem nada a ver com teatro e espetáculo. Os espectadores não assistem ao carnaval, eles vivem o carnaval desde que surgiu! A festa existe para o povo, sem exceção. E isso se vive tanto nas escolas quanto nos blocos, no morro e no asfalto. Porém me parece que o espetáculo das escolas na Sapucaí não é mais uma festa para todos, e sim para poucos.
– É o bendito dilema do esqueleto social brasileiro que fazemos de tudo
para esconder: aos medalhões e VIPs, privilégios, ao povo, a lei. Tenho meus
questionamentos sobre essa imagem “cordial” e “solidária” que o Brasil quer
gritar para o mundo no carnaval... O Brasil esconde muito de sua imagem para si próprio ou acha que tem coisas que não precisa mostrar.
– Acho que pensamos parecido, Bakhtin: o carnaval é o riso popular que
ecoa através dos tempos, aquele riso que não acaba, que não só diverte, mas que
escarnece da tentativa de superioridade, da permanência e do poder. Essa é
essência da rebeldia, seja ela russa ou brasileira! Como dizem por aí, “ri
melhor quem ri, apesar de tudo”. Então, façamos um brinde ao Carnaval!
Nota:
* Na verdade, a origem do carnaval é
desconhecida. Há os que atribuem a origem dessa festa aos cultos agrários
realizados pelos povos primitivos há dez mil anos antes de Cristo, quando esses
povos com cânticos e danças celebravam as boas colheitas. Outros atribuem às
festas em homenagem à deusa Ísis e ao Boi Ápis, no Egito antigo.
Na Grécia, o Carnaval foi oficializado, no
século VII a.C., nas festas de culto a Dionísio, deus do vinho e dos prazeres
da carne, em agradecimento aos deuses pela fertilidade do solo e pela
produção. Essas festas incluíam orgias sexuais e bebidas.
Na Roma antiga, as festas eram em honra ao
deus, Saturno (as saturnálias), deus da agricultura e ao deus Baco (bacanais ou
dionisíacas), chamado de Dionísio pelos gregos.
No século IV, com o advento do cristianismo,
a Igreja tentou combater várias tradições pagãs, mas com o tempo foi forçada a
consentir com essas práticas e, em 590, o Papa Gregório I, oficializou o carnaval
no calendário eclesiástico. Em 1545, durante o Concílio de Trento, o
carnaval passou a ser reconhecido como uma festa popular.
Embora não haja certeza quanto à origem da palavra “carnaval”, sabe-se
que surgiu entre os séculos XI e XII, e deriva do latim carnelevamen (tirar a
carne), depois modificada para carne vale (adeus carne). Está ligada à tradição
cristã, de não comer carne no período que precede a Quaresma (Paixão de
Cristo). Nesse período todos os cristãos deveriam abster-se de carne por quarenta
dias, da quarta-feira de cinza até as vésperas da Páscoa, jejuar e fazer
penitências. Portanto, o carnaval significava a possibilidade de fugir desses
rigores, festejando em liberdade.
http://www.historiamais.com/historia_carnaval.htm