Com o auxílio da coordenação de
línguas, que forneceu bastante material para o preparo dos intérpretes, além do
aparato técnico necessário, as sessões transcorreram bem. Os palestrantes, que
provavelmente estão acostumados a ser interpretados, contribuíram para a
qualidade da interpretação simultânea, falando em um ritmo razoável, pausado e
claro.
Mas também não faltaram momentos de adrenalina. Quando as opiniões ficavam inflamadas, ou quando havia pouco tempo para a fala, e os participantes tendiam a falar na velocidade da luz. E, além disso, as palavras traziam uma carga emocional muito maior, um subtexto de intenções, pois aqueles participantes estavam principalmente tratando de direitos humanos e dando voz às vítimas de seus países.
Por isso, acredito que a primeira
grande dificuldade dos intérpretes iniciantes na cabine é fazer o ajuste do
input/output mental e a rápida transição de canais mentais conforme muda o
idioma de entrada/saída, apertando também os botões certos da central, para
evitar aquele silêncio em que todos se viram para a cabine. Além disso, há o
peso da responsabilidade diante de todos os presentes, o medo de errar, o ritmo
da fala de cada um, o sotaque e a carga emocional, que contribuem para tornar a
tarefa mais complicada.
No entanto, esse trabalho foi muito
bem-feito naquele dia. Foi inspirador ver os colegas trabalhando com alto nível
de profissionalismo, qualidade de voz, transmitindo o conteúdo com precisão, fluência
e entoação correta... Sucesso total! E, diante desse modelo de
perfeição, acredito que uma qualidade antecede todas as outras para que o
intérprete iniciante possa engrenar: a coragem! Ela se sobrepõe ao medo de não
estarmos à altura desses padrões. Ela transforma a experiência difícil do
iniciante em aprendizado e nos faz crescer diante das frustrações. Afinal,
se não aprendermos a acreditar na gente, no futuro não seremos diferentes de
agora.
Ewandro Magalhães fala de
exercícios de dessensibilização do medo para que os intérpretes iniciantes
possam reduzir sua ansiedade. Um deles é uma analogia ao paraquedismo, por exemplo, pois a ansiedade pode
aumentar muito nos minutos antes do salto. Mas pode-se pensar que a chance estatística de dar errado é só de 1%, se tudo tiver sido preparado de acordo. E a ansiedade só dura até a queda; dali em
diante, todos os santos ajudam. Na cabine também: se o intérprete se preparar, há chances de ele se virar melhor nos 30, pois a ansiedade dá lugar à adrenalina.
E a coragem é também o elemento-chave
que reúne aquelas pessoas para dar voz a vítimas de questões sociais tão
diversas, como tortura, direitos reprodutivos, prisioneiros de consciência etc.
No final das contas, para fazermos qualquer coisa que valha a pena nesse mundo,
é preciso coragem para começar, de preferência com o pé direito! Por isso, deixo
aqui meu muito obrigado aos organizadores e colegas presentes pela primeira
porta aberta nesse sentido, o que me trouxe muita motivação para continuar
buscando.
Parabéns, Maíra! Pelo blog, pelo trabalho e pela coragem na cabine!:)
ResponderExcluirValeu, Tayná! Dessa vez fiquei observando de fora da cabine, mas estou me preparando pra um dia pilotar!
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